24 de junho de 2014

Ocupação Macalé


Toda a obra de Jards Macalé, em mais de quarenta anos de carreira, é alvo da 18º exposição do projeto Ocupação, criado pelo Itaú Cultural, em São Paulo. O “maldito”, como ele era chamado, terá todo o seu universo particular desvendado em cerca de 300 itens, exibidos no espaço paulistano até o dia 6 de julho.
O acervo reúne fotos, cartas, revistas, objetos pessoais, cartazes de shows, trechos de produções para cinema e músicas, é claro. A trilha sonora da exposição traz clássicos do cancioneiro de Macalé, como “Vapor Barato”, e músicas de artistas que o inspiraram.


“Eu abri as portas do meu coração, abri as portas da minha casa, sem preconceito nenhum, para que ficasse bem aberta a minha vida criativa e pessoal”, contou ele à Rolling Stone Brasil. “Tem muitas fotos, recortes de jornal, projetos de músicas, projetos de discos, de livros, cartas pessoais do meu pai, da minha mãe e de amigos – Lygia Clark, Hélio Oiticica, Caetano e Gil. Estão todas lá pra quem quiser saber.”

Ocupação Jards Macalé
Do dia 31, sábado, a 6 de julho
Itaú Cultural - Av. Paulista, 149 – Bela Vista
Informações: 11 2168-1776
Gratuito


Fonte: http://rollingstone.uol.com.br/noticia/obra-de-jards-macale-e-desvendada-por-exposicao-em-sao-paulo/

Maria Bethânia - Casa de Caboclo

Maria Bethânia - Xavante / Arco da Velha Índia

Maria Bethânia - Alguma Voz

12 de junho de 2014

O canto florestal de Maria Bethânia

"Meus Quintais", novo trabalho da Abelha Rainha, retrata os sons de um Brasil interiorano e íntimo à cantora

11/06/2014 09:05 - Renato Contente, da Folha de Pernambuco
Tomas Rangel/Divulgação
"Pra mim quintal é família, agasalho, sexo", defende a cantora sobre o tom íntimo do CD
 Maria Bethânia é o tipo de artista que nutre uma poética circular, com profundo respeito à própria essência e aos ciclos que a integram. Se sua voz primeiro explodiu num contexto político inflamado, ao dar o grito de alerta para a miséria do Nordeste, no show "Opinião" (1965), a baiana não demorou a se aproximar dos três eixos que definiriam a maior parte da sua arte pelos 50 anos seguintes: o amor romântico, a imersão nas raízes brasileiras e a devoção pela natureza, representando sua religiosidade.
Depois do álbum de estúdio "Oásis de Bethânia" (2012) e do registro ao vivo "Carta de amor" (2013), ambos sugerindo uma Bethânia na defensiva diante de uma frustração pessoal (um amor que desandou? As desavenças coma imprensa?), a filha de Dona Canô traz uma persona mais leve, serena e um pouco saudosista em seu novo disco de inéditas, "Meus quintais", recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino.
Ao mesmo tempo em que é um descanso da temática de amores absorventes, a obra marca um retorno da artista às suas origens e as de seu Brasil, aquele mundo que começou a ser construído nos quintais de Santo Amaro da Purificação, na Bahia. Em entrevista coletiva transmitida pela internet, a Abelha-Rainha justificou a escolha ao dizer que o quintal é um marco zero no que diz respeito a tatear a vida: "Foi lá onde aprendi a água, a folha, o vento, o silêncio, a cantar, errar, acertar, namorar. Pra mim quintal é família, agasalho, sexo. Tudo começa ali".
O disco é aberto e se encerra com sons de piano, como se o instrumento descortinasse a floresta íntima de Bethânia para depois resguardá-la novamente. O amor ao canto, esse deus generoso com a família da artista, é louvado na bela canção inicial "Algum canto", de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro. Assim como em "Alguém cantando", de Caetano Veloso, a música vincula a pureza do canto à natureza: "Quando eu ouço a voz da fonte / Não sei que canto que encerra / Parece o gozo do monte / Dentro do ventre da terra".
Com referências indígenas, "Xavante" é assinada pelo paraibano Chico César, com quem a artista contou para criar o conceito do novo disco. "Tinha um desejo de cantar o homem do Brasil, o caboclo, o dono da terra, o índio. Liguei para convidar Chico e plantei a semente que deu origem a esse trabalho", relatou a intérprete. No disco, César também é autor da festiva "Arco da Velha Índia", feita especialmente para Bethânia.
"Casa de Caboclo" (Paulo Dáfilin e Roque Ferreira) é uma das canções de "Meus quintais" que sugerem uma conexão estreita com "Brasileirinho" (2003), disco que narra um mergulho mais intenso de Bethânia por um Brasil interiorano e brejeiro. A sonoridade do novo trabalho, com percussões e instrumentos regionais, reforça essa semelhança. Na coletiva, entretanto, ela afirmou que a diferença essencial entre os dois está declarada em seus próprios títulos: "O álbum 'Brasileirinho' é o Brasil. 'Meus quintais' se trata de algo pequenino, individual e pessoal. É um disco para os meus, os de minha casa", revelou.
Allan Macintyre/Divulgação
Maria Bethânia registra a canção "Lua Bonita", que Dona Canô contava para os filhos
Bethânia optou por fazer um disco sem exageros orquestrais, com arranjos límpidos e interpretações que radiografam um coração que, se está dolorido, redescobriu a plenitude de viver na força do canto e na natureza. Não parece haver dor, mas uma saudade leve das pessoas e lugares que foram embora. Esse é o caso de "Lua bonita" (Zé do Norte e Zé Martins, 1953), canção que Dona Canô, falecida em 2012, aos 105 anos, costumava cantar para os filhos. A interpretação suave de Bethânia faz lembrar sua fase no disco "Âmbar", de 1996, quando o amor surgia como algo sustentável.
Mais duas contribuições de Roque Ferreira enriquecem o disco: as cantigas de roda "Candeeiro velho" (com Paulo César Pinheiro) e "Imbelezô eu / Vento de lá". Enquanto a primeira dialoga diretamente com a capa do álbum – um singelo candeeiro aceso na mata -, a segunda avisa que o novo disco não exclui o amor de sua poética, mas reconfigura-o. Isto é, não há espaço para amores que sangram, apenas para o sentimento que se mostra puro, ingênuo, capaz de fazer alguém se sentir iluminado: "Tô amarrada no cais do coração / que me tomou e me prendeu / Imbelezô eu, imbelezô eu", canta ela.
"Uma Iara", composta pela gaúcha Adriana Calcanhotto especialmente para o álbum, é uma das canções mais bonitas do disco. A música é narrada por alguém que se encantou perdidamente pela sereia Iara, ser de cabelos negros que se deita sobre vitórias-régias, na Amazônia, para seduzir pescadores com seu canto. Na faixa, a cantora ainda recita um trecho do texto "Uma perigosa Yara", de Clarice Lispector.
    Bethânia reforça esse passeio pelo Brasil que há dentro dela - e que foi tão absorvido na sua infância - no tema de folclore popular "Moda da onça" (adaptado por Inezita Barroso em 1960) e nas inéditas "Povos do Brasil" (Leandro Fregonesi) e "Folia de Reis" (Roque Ferreira). Na versão para iTunes, o disco ainda ganha uma faixa extra, "Dindi", de Tom Jobim, maestro que muito incorporou os mistérios da natureza à sua obra musical. Curiosamente, Dindi não se refere a uma mulher, como se costuma pensar, mas à beleza e à selvageria que há na natureza. Por tabela, também ao canto de Bethânia.
    Divulgação
    Capa do novo disco de Bethânia
    DEDICATÓRIA - Chico César fez "Arco da Velha Índia" para Bethânia, que, por sua vez, dedicou a música à Rita Lee. A cantora quase chamou Rita para gravar com ela "Uma Iara", mas depois mudou de ideia. "Deixa a Rita quieta", disse ter pensado.
    ORIGEM - "O disco é árvore, pé no chão, estou descalça", disse Bethânia, que revelou que tem uma atração forte pela cultura indígena. De acordo com ela, o candomblé de caboclo foi a primeira expressão religiosa africana que viu.
    SERVIÇO:
    CD "Meus quintais", de Maria Bethânia 
    Gravadora: Biscoito Fino
    Preço sugerido: R$ 29,90

    Fonte: http://www.folhape.com.br/cms/opencms/folhape/pt/cultura/noticias/arqs/2014/06/0036.html

    10 de junho de 2014

    Música Iara do CD "Meus Quintais"


    O CD já saiu da pré-venda e encontra-se disponível nas lojas como Livraria Saraiva e Livraria Cultura.

    Abaixo o áudio da belíssima canção de  Adriana Calcanhotto com o texto de Clarice Lispector "Uma perigosa Yara".


    8 de junho de 2014

    Maria Bethânia lança “Meus Quintais”, álbum que esbanja elegância para expressar bucolismo e inocência


    Sons de infância e natureza

    Maria Bethânia lança “Meus Quintais”, álbum que esbanja elegância para expressar bucolismo e inocência

    PUBLICADO EM 07/06/14 - 03h00
    DANIEL BARBOSA

    A começar pelo título, “Meus Quintais”, o novo disco de Maria Bethânia,
    entrega os sentimentos que guiaram a concepção e realização do trabalho. Também o repertório, com canções como “Xavante” e “Arco da Velha Índia”, ambas de Chico César, “Casa de Caboclo” e “Candeeiro Velho”, que levam a assinatura de Roque Ferreira, “Moda da Onça”, de Paulo Vanzolini, ou “Povos do Brasil”, de Leandro Fregonesi, não deixa muitas dúvidas sobre a temática que perpassa o álbum: os índios, a mata, os rios, o folclore.


    “Não pensava em fazer disco por agora, queria fazer somente ano que vem, quando completo 50 anos de carreira. Mas senti o desejo de cantar o homem do Brasil, o caboclo, o dono da terra, o índio. Isso veio de forma muito intuitiva”, diz, acrescentando que a primeira pessoa para quem ligou para ajudar a desenvolver a ideia foi Chico César, que efetivamente foi seu parceiro de primeira hora em “Meus Quintais”. Na esteira vieram Adriana Calcanhotto, que a partir do direcionamento de Bethânia compôs “Uma Iara”, Fregonesi, com sua “Povos do Brasil”, e os outros autores.

    Com as canções reunidas em mãos, Bethânia convocou músicos do quilate de André Mehmari, Maurício Carrilho, Jorge Helder, o trio Tira Poeira, Marcelo Costa, Luciana Rabelo, Wagner Tiso, entre outros, que se revezam ao longo das faixas, tocando e criando os arranjos.

    “Em ‘Meus Quintais’, os músicos são autores, mesmo que não estejam assinando nenhuma canção ou cantando. Eu jogava uma ideia de uma canção, um verso, um pensamento sonoro e eles iam ali criando. É diferente de chamar para cada faixa um arranjador. Eles ficaram brincando em várias situações rítmicas, harmônicas, foi muito alegre, parecia quintal mesmo”, diz.

    Em termos estéticos, o resultado dessa alquimia fica com um pé nos folguedos populares e outro na sala de concerto, o que pode evocar trabalhos pregressos da cantora, como “Pirata” ou “Brasileirinho”. Conceitualmente, entretanto, há diferenças, conforme pontua Bethânia. “O ‘Brasileirinho’ era o Brasil, o ‘Meus Quintais’ é meu, uma coisa pequenininha. Ali era o sentimento do povo brasileiro, aqui é pessoal”, diz.

    E ao dizer isso ela introduz outro mote na equação do álbum: a infância. “O quintal foi onde aprendi tudo, porque tinha a casa, o alimento, o agasalho, o amor, o ensino, mas o quintal era a liberdade. Todo mundo pode tudo no quintal, eu acho que é uma coisa de primeiros passos. A gente gostava das brincadeiras loucas e também dos silêncios, da observação. Quintal é onde aprendi a água, a folha, o vento, aprendi a cantar, a errar, acertar, namorar. Tudo começa ali. Esse disco é para os meus, para os da minha casa, a dedicatória é essa, de um modo geral”, diz, ressalvando que não há nenhum traço de saudosismo nessa ideia. “Carrego a criança em mim, ela é que faz tudo”, destaca.

    Em relação aos projetos futuros, Bethânia diz que pensa em fazer um show ou turnê comemorativa por suas cinco décadas de carreira em 2015, usando “Meus Quintais” como “contraponto” para um repertório que abrangeria toda sua carreira. Outro desejo é gravar um álbum só de piano e voz com André Mehmari, que a acompanha nesse formato em “Alguma Voz”, a faixa que abre “Meus Quintais”. “Seria um disco com o Mehmari fazendo essa coisa de Brasil, que ele conhece tão bem, me ensinando, e eu com a coisa do Recôncavo. Acho que ia ficar uma coisa bonitinha, quem sabe?”, acena.

    Entalhes

    Em “Meus Quintais”, Bethânia revela uma faceta pouco conhecida – a de artesã: o encarte traz fotos de entalhes em madeira que ela faz.


    Fonte: http://www.otempo.com.br

    5 de junho de 2014

    Os quintais de Maria Bethânia...


    "Maria Bethânia põe os pés na terra em 'Meus quintais':

    Num cantinho da casa de Maria Bethânia, entre plantas de Maria Bethânia, um pequeno candeeiro feito por Maria Bethânia sustenta uma chama. A capa de “Meus quintais” (Biscoito Fino), novo álbum da cantora, anuncia o espírito que atravessa suas 13 faixas, dos versos aos arranjos — a amplidão da natureza, do divino e do humano tratados numa esfera de intimidade profunda. Como se fosse um “Brasileirinho” para dentro.

    —Eu fui criada em cidade do interior, em casa — começa Bethânia, ao falar do quintal real, vivo em sua memória, que serve de espinha dorsal ao disco. — O quintal ficava lá atrás, era terra, árvore, uma coisa assim meio de onça, bicho do mato. Tive a felicidade de ter um irmão da qualidade de Caetano no galho de outra árvore. Eu ficava num, ele no outro. Aquilo era um brinquedo muito saboroso. O quintal é um lugar livre, onde você aprende a se concentrar, a namorar, sua cabeça viaja. E ao mesmo tempo você vê a casa, faz parte de um lugar muito bem alicerçado. O quintal pra mim sempre teve um significado muito grande. Tão grande que, sem prestar atenção a isso, quando foi feita a reforma da casa, quando meu pai ainda era vivo, pedi que meu quarto ficasse no quintal, não no hall. Porque foi onde eu vivi. Ali que tudo formou em mim.

    Aquele quintal de Santo Amaro aparece no disco claramente na figura de Dona Canô, que paira sobre o álbum e está numa foto do encarte, recostada no ombro de Bethânia, numa foto tirada em seu aniversário de 100 anos — ao lado da imagem, versos de “Dindi” (“O vento que fala nas folhas/ Contando as histórias que são de ninguém/ Mas que são minhas e de você também”). Primeiro álbum de estúdio da cantora feito após a morte da mãe, no fim de 2012, “Meus quintais” é marcado por essa ausência. “Mãe Maria” (de Custódio Mesquita e Davi Nasser) é a maior evidência disso.

    — É a única regravação. Gravei há muitos anos. É óbvio que naquela época Mãe Maria era minha mãe, minha mãe de santo, Nossa Senhora da Purificação, minhas senhoras todas... Hoje Mãe Maria sou eu. Eu mesma me contando as lendas da “Moda da onça”, da Iara. Eu mesma me dando algum conforto já que essas mães... Quando perdi minha mãe tive um pouco que assumir eu mesma. Eu que tenho que cuidar de mim — diz Bethânia, reforçando a fala ao notar que são delas os cabelos brancos da foto do encarte sob a letra de “Mãe Maria”.

    As lendas da “Moda da onça” e da Iara que a cantora cita são referências às faixas “Moda da onça”, folclore recolhido por Paulo Vanzolini (“É uma característica do Brasil extraordinária: um cientista, trabalhando no Butantã, faz a moda da onça daquela maneira, o mesmo que escreve ‘Ronda’...”) e “Uma Iara/ Uma perigosa Yara”, junção de música inédita de Adriana Calcanhotto e texto de Clarice Lispector, editado por Fauzi Arap e Bethânia, na última parceria da dupla, pouco tempo antes de o diretor morrer, em dezembro passado.


    As duas faixas estão dentro do universo caboclo, roça, índio de “Meus quintais” — uma ampliação dos galhos da árvore dos fundos da velha casa:
    — O disco é árvore, pé no chão, estou descalça. Todo mundo conta que os Veloso têm uma ancestralidade dos pataxós. Tenho uma atração muito grande por essa coisa do índio. E o caboclo foi a primeira expressão religiosa africana que vi. Santo Amaro tinha candomblé de caboclo, que são os espíritos índios. Eu adorava, era muito alegre. Adorava ouvir as cantigas, era perto da minha casa. Essa lembrança me veio muito forte, tive essa intuição.

    A intuição de que aquele podia ser um caminho para algo indefinido — Bethânia não tinha a intenção de lançar nada neste ano, ia deixar para 2015, quando completa 50 anos de carreira — levou a cantora a convocar Chico César para compor para ela. Ele atendeu ao pedido e assina duas do disco, “Xavante” e “Arco da velha índia”, que fez pensando na cantora (“O arco da velha índia/ É corda vocal insubmissa”):

    — Foi um modo de ele me ver. Estou velha, de cabelo branco... Fiquei fascinada por aquilo — conta Bethânia. — Ele dedicou a mim, mas eu disse que queria dedicar a Rita Lee. Porque Rita sempre fala que quer ser a velha índia sábia. Eu brincava, cheguei a falar para ela cantar “Uma Iara” comigo, mas depois pensei: “Deixa a Rita quieta”.

    Ao saber que o paraibano estava compondo para Bethânia, Calcanhotto mandou uma mensagem: “Ciúme de Chico César”. A cantora pediu então que ela fizesse algo para Iara. Saiu “Uma Iara”, no qual a compositora chega ao mito amazônico pela Grécia (“Iara, a que canta, a citéria”).

    “Sou senhora e sou meninota”

    “Meus quintais” inclui ainda o samba-enredo indígena “Povos do Brasil” (de Leandro Fregonesi), quatro faixas de Roque Ferreira (só ou em parceria com Paulo Dafilim ou Paulo César Pinheiro) e as antigas “Dindi” (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira) e “Lua bonita” (Zé Martins e Zé do Norte), esta encharcada de memórias (“Quando falo de meus quintais tem uma melancolia também, porque eu moro desde os 17 anos longe disso”).

    — Em casa ouvíamos tudo. O samba de roda, um rei que chegava (“Folia de reis” é dedicada a seu irmão Rodrigo, que recuperou a tradição do festejo em Santo Amaro), uma cantiga da bossa nova, minha mãe assoviando uma canção... “Lua bonita” entra por aí — diz, antes de se calar, emocionada.
    Alguns minutos depois, ela volta à canção:

    — Os baianos gostam de “Lua bonita”. Caetano gravou no “Pedrinha de Aruanda” (de Andrucha Waddington) com minha mãe. E Raul Seixas tem uma gravação que é um show. Foi onde estudei.

    A melancolia se une a uma alegria infantil no álbum, explica Bethânia.
    — Ao mesmo tempo em que sou eu senhora, sou eu meninota. Tanto que botei criança cantando. No CD, eu faço eu, eu conto eu, viajo em mim, passo para o caboclo, viro Iara, saio, viro tapuia.

    A ideia do quintal, de liberdade, brincadeira, pé na terra, também se faz presente na exuberância seca, de poucos elementos, dos arranjos (a direção geral do CD é assinada por ela e Jorge Helder).

    — Tem uma singeleza, uma naturalidade de cada um dos músicos. Eles iam realizando muito livremente, sem nenhuma pretensão de “ah, esse acorde”. Não tinha aquela festa do acorde, não.
    Com essa simplicidade natural, a faixa de abertura, “Alguma voz” (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro), toca nos temas centrais de “Meus quintais”, entre eles o canto, que aparece no disco associado ao vento, ao mar, à terra e à voz humana:

    — Ainda está muito longe de eu desvendar o mistério do canto. Acho lindo uma pessoa emitir. Um dessa maneira, outro daquela, essa individualidade que Deus determina. A voz traduz isso. E é o ar, sem o qual você não vive, que é o elemento do meu orixá. Fica uma casa boa para mim. Meu quintal."

    O Globo

    Fonte: http://www.paraiba.com.br/2014/06/05/20993-maria-bethania-poe-os-pes-na-terra-em-meus-quintais-veja-critica-do-novo-trabalho-da-baiana