Há 25 anos, Ricardo Filgueiras abandonou a arquitetura para se dedicar à joalheria, paixão descoberta durante uma viagem. Por acaso, o carioca se deparou com um curso de joalheiros em Nova York, iniciou sua produção por hobby quando retornou ao Brasil, e suas peças começaram a ganhar notoriedade entre artistas, profissionais de moda e colecionadores.
A partir de um amigo que comentava com outro amigo, de repente as visitas à loja viraram uma romaria para ver "os aneis de Ricardo". Com uma produção de aneis que causaram tanta comoção, o designer de joias atraiu os olhares dos estilistas paulistas Reinaldo Lourenço e Glória Coelho, do editor Michael Roberts, da "Vanity Fair", a atriz Glória Pires, a estilista Lenny Niemeyer, o diretor Alberto Renault e até Maria Bethânia, conhecida por não circular à toa. O que vem atraindo tantas pessoas, são... pessoas. Ou melhor, a representação, com ouro, prata e pedras, da visão de Ricardo sobre etnias.
A conhecida diretora Bia Lessa foi à loja de Ricardo Filgueiras atrás de um anjo da guarda para dar de presente quando viu os anéis: - O Ricardo me mostrou os aneis e eu só pensava: Bethânia, Bethânia, Bethânia. Tinha tudo a ver com ela. Ricardo é um artesão que pensa o homem e as angústias humanas - diz a diretora em reportagem para um jornal.
Bia Lessa não foi a única a pensar em Maria Bethânia. Regina Casé levou a amiga para ver a coleção. A mesma Regina que usou cinco anéis da série etnias no prêmio da MTV.
O lançamento da linha étnica coincide com o aniversário de 25 anos como designer de Ricardo, carioca que se formou em engenharia, chegou a fazer pós-doutorado, mas, o hobby falou mais alto. Entre cursos de moda e design gráfico, chamou-lhe a atenção o de joalheria.
- Joalheria para mim era um mistério que ninguém ousaria ensinar ou revelar. Eu tinha uma imagem mítica de seres escondidos em cavernas fazendo coisas mágicas. Um curso de joalheria? Eu tinha que fazer.
Através de pesquisas, inicou o trabalho. Pensou num índio sem nacionalidade, universal, meio xamã, meio americano, meio mexicano. O índio, em ouro amarelo, foi seguido de um árabe em ouro branco e jatos de areia. Depois ele quis uma figura com raizes mais longínquas. Nasceu o negro/africano nômade/massai, em ouro rosa com turmalina paraíba.
O intervalo de criação entre as peças era de um mês. Enquanto terminava uma e começava outra, convidava amigos para ver a coleção se desevolvendo e "plasmar as impressões". Assim, foi surgindo a polinésia, em ouro com flores verdes, O velho sábio chinês, o marajá, em ouro braco e rosa com pérolas e a gueixa. Dez figuras que viraram referência para outras criações: pingentes, frascos, anéis menores e cartões.
Para o designer as figuras representam a convivência das diferenças - pondera. Para ele a única intenção é deixar uma mensagem construtiva.
Na contramão das coleções temáticas, ele prefere criar jóias personalizadas. “Sinto prazer em desvendar o desejo de uma pessoa”, conta. “A joalheria feita com amor, com uma mensagem bacana é o que está em alta”, ensina o designer, que tem loja em Ipanema, Rio de Janeiro.
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