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Maria Bethânia concedeu entrevista ao jornal Diário de Pernambuco pelo seu show Amor, Festa, Devoção que aconteçeu no Chevrolet Hall em Olinda:
"Quando fala, Maria Bethânia tem a mesma bela voz de quando canta. O tom romântico e confessional das canções que interpreta, porém, dão lugar a uma mulher segura, decidida. E feliz. Apaixonada pela profissão que abraçou quando ainda era adolescente, Maria Bethânia passa por um bom momento em sua carreira. No ano passado lançou dois discos - Tua e Encanteria - que se transformou no espetáculo Amor, Festa, Devoção, que passou pelo Teatro Guararapes em novembro e voltou à cidade, no Chevrolet Hall. "É um show dedicado à minha mãe. Ela viveu e vive sua vida exatamente assim, com amor, festa e devoção", conta Maria Bethânia.
A turnê já está no segundo ano e percorreu diversas capitais do Brasil e alguns paises da Europa. Em Portugal, Maria Bethânia recebeu uma comenda da Casa Fernando Pessoa, por ser uma divulgadora da obra do poeta. Poesia que a cantora sempre fez questão de lever aos palcos. "Isso começou ainda quando estudava no Convento dos Humildes. Todo mês tinha um espaço para o drama: um teatro, uma declamação. Como eu levava jeito, me apresentava sempre", lembra a cantora.
Nesta apresentação vai ter muita poesia em forma de música. O repertório é baseado nas 23 músicas dos seus dois últimos álbuns, mas sem esquecer das composições já conhecidas do público. "Não sou fechada para nenhum estilo. Canto o que me comove", diz Bethânia, que não gosta quando falam que ela canta música romântica. "O romantismo corre o risco de cair no brega. Eu canto músicas de amor", diferencia. "Faço isso como intérprete. Se eu vivesse tudo o que as letras das músicas dizem, enlouqueceria".
Em Salvador para comemorar o aniversário de 103 anos da sua mãe, Dona Canô, Bethânia conversou com o Diario por telefone, de sua casa no Largo 12 de Julho, perto da ladeira da Preguiça. Mas o sétimo pecado capital é coisa que ela nunca teve. "Eu até deveria ter. Caymmi dizia que todo mundo tem que ter um pouco de preguiça. Mas eu simplesmente não consigo", diz. Na entrevista abaixo, a diva da MPB fala sobre sua fé, política, Amy Winehouse, sua paixão pelo trabalho e diz que vai votar em Marina porque ela representa a floresta amazônica.
Confira a entrevista completa com Maria Bethânia.
Como é a sua rotina?
Eu sou muito quieta, muito caseira. Vivo no Rio de Janeiro desde os 17 anos com meus bichos, minhas plantas, meus livros. Gosto de administar a casa eu mesma, gosto de cozinhar. Claro que não é todo dia que eu consigo fazer isso, mas gosto. Fico o tempo todo trabalhando, lendo alguma coisa, escrevendo, pesquisando, escutando música, procurando algo novo. Uma amiga minha diz que eu passo um fim de semana trancada em casa e saio com cinco discos e dois shows prontos.
Você usa a internet para escutar novos artistas?
Uso pouquíssimo a internet. Tem algumas coisas boas, mas no geral é uma grande lixeira. Então, eu sou ponderada. Uso apenas para fazer alguma coisa específica. Não sou de ficar catando novos artistas. Quando tem a indicação de alguém eu vou e escuto. Hoje em dia é tão dificil encontrar alguém que traga algo novo, alguém que realmente faça algo diferente. Faz tempo que vejo alguém que me chame a atenção.
Qual foi a última vez que você se deparou com algum artista assim?
Não me ache esquisita, mas eu tenho um gosto que pode parecer estranho. Foi a Amy Winehouse. Ela tem um timbre extraordinário, é uma intérprete excelente, que sabe escolher ótimas composições. É uma grande artista, com uma força imensa. Depois de Janis Joplin, só foi ela quem trouxe de volta essa coisa explosiva, diferente. Sinto muita falta de Janis Joplin. Ela tinha essa coisa da genialidade e da loucura na vida pessoal e no palco que a Amy também tem. Tenho muito medo que ela morra jovem. Rezo todo dia por ela. Não só eu, mas muita gente também reza pela Amy.
Você parece ser uma pessoa muito religiosa. Como você lida com sua espiritualidade no dia a dia?
Eu não sou carola. Minha vida é o meu ofício. Eu gosto de comungar, gosto de ir numa missa, mas isso não me prende. Não deixo de cumprir minhas tarefas por conta da religião. Na minha família, todas as festas são comemoradas primeiro com uma missa. Sou baiana, tenho essa mistura de catolicismo com candomblé. Tenho muita fé.
No documentário Maria Bethânia do Brasil você falou que anda desiludida com o rumo que o país tem tomado. Você acha que as eleições podem mudar isso?
Eu não falou sobre política. Não quero entender isso. É uma deficiência que eu tenho. Eu não ser viver com política porque não tem um eixo. Diz um sim hoje e um não amanhã com a mesma convicção. É algo que escorre, não é concreto. Eu sou uma pessoa rigorosa e disciplinada. Não gosto dessas coisas.
Então você acha que não é pela política que o Brasil vai melhorar?
As pessoas precisam de educação e saúde. Mas educação de verdade. Não é ir para a aula e fingir. Tem que ensinar de verdade, aprender de verdade. A educação é o caminho.
Você divulga o seu voto?
Vou votar em Marina Silva. Ela defende o povo da Amazônia, que é o povo mais brasileiro possível. Um povo esquecido. E eu gosto muito da Marina como pessoa. Ela tem uma delicadeza e uma força muito grande. Assim como a floresta.
Marina tem vários pontos polêmicos, como não apoiar o casamento entre homossexuais...
Isso não importa. Eu sei que ela não vai ganhar. O meu voto em Marina é pela floresta amazônica. Pelo povo amazônico que ela representa.
Sua mãe acabou de completar 103 ano e você está com 64 anos. Como você vê a maturidade?
A minha voz continua a mesma. É um dom que Deus me deu, um presente maravilhoso. Mora em mim, mas é uma faísca de Deus. O corpo muda com a idade. Quanto mais velha, mais fina fica a pele e mais cuidados necessita. Eu tenho sorte porque tenho esse jeito magrinho dos Veloso. Sou ágil, mas sinto algumas mudanças, claro. Não posso mais fazer cinco shows por semana, como já fiz. Hoje faço quatro, três. Também não acho que vou conseguir ter a longevidade da minha mãe. Ela viveu em outro mundo. Não existia essas novidades desconhecidas horrorosas. Como essas doenças que estão aparecendo, esses laboratórios que espalham vírus. Também tenho muito mais estresses. Eu morro de medo de andar de avião e tenho que andar o tempo todo. Também detesto ter que ficar em hotel e é uma coisa que minha profissão exige.
Sua mãe, teve filhos, tem uma família numerosa. Você se arrepende de não ter tido tudo isso?
Eu tenho vários filhos espalhados pelo Brasil. Minha mãe fez uma escolha diferente. Ela escolheu ser o amor da vida do meu pai e ele ser o amor da vida dela. Criaram os filhos juntos, ela vive uma vida muito feliz. Está com 103 anos em plena felicidade, lúcida, com saúde. A minha escolha desde foi a coisa cênica que só mais tarde eu percebi que era o palco, a música. Vou morrer nisso, se Deus quiser. Não me arrependo de nada. O bonito é viver a vida.
E você é feliz?
Eu sou extremamente feliz. Faço o que eu amo. Eu venero a minha profissão. Deus foi generoso comigo. É um privilégio trabalhar com o que se ama."
O Show da cantora aconteçeu na casa de espetáculos Chevrolet Hall em Olinda no dia 24 de Setembro de 2010 com a turnê "Amor Festa Devoção".
Abraços,
Fã-clube Grito de Alerta
(Comunidade do Grito de Alerta no Orkut)