Sons de infância e natureza
Maria Bethânia lança
“Meus Quintais”, álbum que esbanja elegância para expressar bucolismo e
inocência
PUBLICADO EM 07/06/14 - 03h00
DANIEL BARBOSA
A começar pelo título, “Meus Quintais”, o novo disco de
Maria Bethânia,
entrega os sentimentos que guiaram a concepção e realização do
trabalho. Também o repertório, com canções como “Xavante” e “Arco da Velha
Índia”, ambas de Chico César, “Casa de Caboclo” e “Candeeiro Velho”, que levam
a assinatura de Roque Ferreira, “Moda da Onça”, de Paulo Vanzolini, ou “Povos
do Brasil”, de Leandro Fregonesi, não deixa muitas dúvidas sobre a temática que
perpassa o álbum: os índios, a mata, os rios, o folclore.
“Não pensava em fazer disco por agora, queria fazer somente
ano que vem, quando completo 50 anos de carreira. Mas senti o desejo de cantar
o homem do Brasil, o caboclo, o dono da terra, o índio. Isso veio de forma
muito intuitiva”, diz, acrescentando que a primeira pessoa para quem ligou para
ajudar a desenvolver a ideia foi Chico César, que efetivamente foi seu parceiro
de primeira hora em “Meus Quintais”. Na esteira vieram Adriana Calcanhotto, que
a partir do direcionamento de Bethânia compôs “Uma Iara”, Fregonesi, com sua
“Povos do Brasil”, e os outros autores.
Com as canções reunidas em mãos, Bethânia convocou músicos
do quilate de André Mehmari, Maurício Carrilho, Jorge Helder, o trio Tira
Poeira, Marcelo Costa, Luciana Rabelo, Wagner Tiso, entre outros, que se
revezam ao longo das faixas, tocando e criando os arranjos.
“Em ‘Meus Quintais’, os músicos são autores, mesmo que não
estejam assinando nenhuma canção ou cantando. Eu jogava uma ideia de uma
canção, um verso, um pensamento sonoro e eles iam ali criando. É diferente de
chamar para cada faixa um arranjador. Eles ficaram brincando em várias
situações rítmicas, harmônicas, foi muito alegre, parecia quintal mesmo”, diz.
Em termos estéticos, o resultado dessa alquimia fica com um
pé nos folguedos populares e outro na sala de concerto, o que pode evocar
trabalhos pregressos da cantora, como “Pirata” ou “Brasileirinho”.
Conceitualmente, entretanto, há diferenças, conforme pontua Bethânia. “O
‘Brasileirinho’ era o Brasil, o ‘Meus Quintais’ é meu, uma coisa pequenininha.
Ali era o sentimento do povo brasileiro, aqui é pessoal”, diz.
E ao dizer isso ela introduz outro mote na equação do álbum:
a infância. “O quintal foi onde aprendi tudo, porque tinha a casa, o alimento,
o agasalho, o amor, o ensino, mas o quintal era a liberdade. Todo mundo pode
tudo no quintal, eu acho que é uma coisa de primeiros passos. A gente gostava
das brincadeiras loucas e também dos silêncios, da observação. Quintal é onde
aprendi a água, a folha, o vento, aprendi a cantar, a errar, acertar, namorar.
Tudo começa ali. Esse disco é para os meus, para os da minha casa, a
dedicatória é essa, de um modo geral”, diz, ressalvando que não há nenhum traço
de saudosismo nessa ideia. “Carrego a criança em mim, ela é que faz tudo”,
destaca.
Em relação aos projetos futuros, Bethânia diz que pensa em
fazer um show ou turnê comemorativa por suas cinco décadas de carreira em 2015,
usando “Meus Quintais” como “contraponto” para um repertório que abrangeria
toda sua carreira. Outro desejo é gravar um álbum só de piano e voz com André
Mehmari, que a acompanha nesse formato em “Alguma Voz”, a faixa que abre “Meus
Quintais”. “Seria um disco com o Mehmari fazendo essa coisa de Brasil, que ele
conhece tão bem, me ensinando, e eu com a coisa do Recôncavo. Acho que ia ficar
uma coisa bonitinha, quem sabe?”, acena.
Entalhes
Em “Meus Quintais”, Bethânia revela uma faceta pouco
conhecida – a de artesã: o encarte traz fotos de entalhes em madeira que ela
faz.
Fonte: http://www.otempo.com.br
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