6 de julho de 2013

Mesa com Maria Bethânia e Cleonice foi uma homenagem apaixonada a Fernando Pessoa


Mesa com Maria Bethânia e Cleonice foi uma homenagem apaixonada a Fernando Pessoa / Walter Craveiro/Flip/Divulgação
Mesa com Cleonice Berardinelli e Maria Bethânia.
Walter Craveiro/Flip/Divulgação

"Toda reverência corre o risco de ser demasiadamente formal, matar a homenagem que procura ser. Celebrar a obra de Fernando Pessoa, um poeta que nunca sai de evidência, com uma mesa de recitais, é sempre flertar com o perigo. Ainda mais em um festival como a Festa Literária Internacional de Paraty, que tão raramente abre espaços para leituras assim, como a da cantora Maria Bethânia com a pesquisadora Cleonice Berardinelli na noite desta sexta-feira (5).

Com filas imensas, a mesa ainda teve vaia do público pelo atraso – Bethânia fez questão de passar o som com detalhismo antes de permitir a entrada. Logo de cara, no entanto, já era possível notar que não seria o caso: formalidades de lado, o espaço foi da emoção.
Foram poucas palavras antes da leitura. Cleonice leu um pequeno texto, descrevendo as duas como “mulheres unidas por paixões complementares e paralelas que norteiam as suas vidas”. A condição para selecionar os versos imposta por Bethânia foi “que a escolha fosse de Cleonice”, mas a resposta da acadêmica exigia que Bethânia revisasse e modificasse.

Durante a leitura, as duas contemplaram o poeta Pessoa e “os poetas que ele criou a sua volta”. A emoção transmitida pela cantora baiana não surpreende - na Fliporto, leu uma seleção pessoal de poemas que já mostrava seu gosto e habilidade como intérprete literária. Tão bonita quando a sua participação foi a fala de Cleonice, uma grande declamadora mesmo aos 96 anos. As leituras da pesquisadora foram recebidas com entusiasmo por Bethânia, que aplaudiu a companheira de mesa diversas vezes e celebrou de pé a sua declamação final.
      
Na conversa após o recital, Cleonice revelou que não consegue escolher um heterônimo preferido: “Seria como escolher um filho preferido”. “O ortônimo, Pessoa mesmo, tem momentos de maior emoção que ele parece evitar nos heterônimos”, expôs. Perguntada sobre se gostaria de ser um heterônimo de Pessoa, ela ainda comentou que tinha a impressão que o poeta foi alguém que sofreu muito. “Não gostaria de ser uma criação dele”.


Bethânia recebeu muito elogios e até declarações. Provocada pelo público, a cantora avisou que já sonha em gravar os poemas com Cleonice. “Pessoa é o poeta da minha vida, ele é quem sustenta minha respiração”, afirmou."





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